domingo, 21 de abril de 2019

Projeto de reforma do Ver-o-Peso ressuscita dúvidas

Três anos após o primeiro anúncio de reforma da Feira do Ver-o-peso, a prefeitura de Belém repetiu a promessa de iniciar as obras em breve. Durante as comemorações de aniversário do complexo, no final de março, o prefeito Zenaldo Coutinho, em discurso público, alegou que a reforma finalmente sairá e que, no passado, ela teria sido impedida por meras “diferenças políticas”. Mas asmudanças no projeto, reivindicadas ainda em 2016 por diferentes setores, como os movimentos de trabalhadores do complexo, de defesa do patrimônio e especialistas, ainda não foram detalhadas à sociedade. Representantes de diversas áreas do Ver-o-Peso denunciaram esta semana o abandono do espaço nos últimos anos como forma de retaliação da prefeitura e alegam prejuízos. Eles reclamam também da ausência de informações suficientes sobre o novo projeto a ser executado. O Ministério Público Federal, por sua vez, deve garantir a realização de uma nova audiência, para que a sociedade conheça mais sobre a reforma que tende a afetar do cotidiano de trabalho e consumo na feira até a dinâmica econômica dos bairros envolvidos

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Necessidade de reforma é consenso entre os feirantes, mas eles questionam que tipos de mudanças serão feitas no espaço. E voltam a reclamar do abandono e da ausência de informações 

Belém, 11 de abril de 2019 – Representantes de diferentes setores do Ver-o-Peso reuniram-se, na manhã da última terça-feira, 9 de abril, com a procuradora da República Nathalia Mariel, do Ministério Público Federal (MPF), no box do Nazareno, dentro do Mercado de Carne. No encontro, eles relataram a situação da feira e a preocupação com a proposta de reforma apresentada pela Prefeitura de Belém durante as comemorações do aniversário do Ver-o-Peso, no final de março.
Anunciada pela primeira vez em 2016, a proposta de reforma da Feira do Ver-o-Peso agora voltou à tona, sem confirmação de que as adequações definidas por consulta popular e avaliações técnicas foram feitas. O projeto de reforma foi duramente criticado na época pelo caráter de improviso, pela falta de participação dos públicos envolvidos e dos riscos de gerar graves problemas para a cidade em diversas áreas. Depois de denúncias junto ao MPF, que orientou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a abrir uma consulta pública, várias mudanças no projeto foram amplamente reivindicadas por diferentes setores da sociedade, como os movimentos de trabalhadores do complexo, de defesa do patrimônio, de povos tradicionais, de arquitetos, urbanistas e outros acadêmicos.
Segundo os feirantes, há ainda muitas dúvidas e incertezas sobre o projeto em si e os trâmites da reforma. Quais serão, afinal, os tamanhos e a localização das barracas por setores? Haverá o rebaixamento da plataforma e quais as soluções técnicas e tecnológicas para que a feira não vá para o fundo em épocas de maré alta? Quem deve administrar os banheiros e o estacionamento? Para onde e por quanto tempo os feirantes serão remanejados?
Há também a reclamação geral sobre o abandono, por conta da ausência de manutenção periódica e da precariedade dos serviços de limpeza e segurança nos espaços do Ver-o-Peso nos últimos anos, conforme veiculado esta semana pelo próprio MPF.
“A minha barraca tá afundando aqui. O engenheiro veio, interditou. Eu pedi pra eles que mandassem fazer o trabalho, porque eu não sei. Aí disseram que a obrigação era minha. Como é que eu vou arrumar um mestre de obra que não conhece aí? Vai colocar cimento, eu que vou ficar responsável, né? Tudo isso tá errado. Por mais que eu pagasse, mas mandasse uma pessoa que entenda disso”, conta a cozinheira Osvaldina Ferreira, do setor de alimentação.
A necessidade de reformar o Ver-o-Peso é consenso entre os feirantes. Eles contam que são precárias as situações do piso, das instalações elétricas e hidrossanitárias. Mas questionam sobre os tipos de mudanças a serem feitas.
Esse projeto é de reforma aproveitando a estrutura da feira que tá ou é um projeto de demolição pra reconstrução de uma outra feira? Me parece que é destruir o que tá e construir da maneira deles. O que é muito ruim. Uma obra dessa demanda um tempo enorme, gasto absurdo e prejuízos incalculáveis pra nós”, avalia Dalci da Silva, do setor de industrializados.
Taí o exemplo de obra como o BRT. É uma obra continuada, feita por etapas. Eu tenho medo desse tempo. De fazer uma obra a longo prazo e me quebrar. A gente vive daqui, tudo se tira daqui”, completa Dalci.
Alonso dos Santos, do setor de artesanato, também se preocupa com uma intervenção na feira que se prolongue demais. “É nós que tamo em jogo, é nosso tempo”, lembra o feirante.

Dúvidas continuam

De acordo com Dalci, um projeto de reforma do Ver-o-Peso precisa considerar as particularidades de cada setor, de cada atividade. Osvaldina ressalta que não se pode olhar só para a feira. “O Ver-o-Peso é um complexo. Começa na Feira do Açaí e na Pedra do Peixe. Isso não tá no projeto. Por quê?”, questiona. “Um puxa o outro. A Feira do Açaí puxa a gente, a gente puxa eles. A Pedra do Peixe puxa a gente, a gente puxa eles. Industrializado, verdura, erva, tudo.”
Não há clareza, para os feirantes, quanto à reforma que a Prefeitura pretende fazer.
Todo mundo quer a reforma. Mas o que tá me preocupando é o projeto, que eles não mostram pra gente. Só quem sabe é quem trabalha, não é quem tá dentro do escritório pra fazer um desenho”, pontua Osvaldina. “Como vai ficar o equipamento? Quantas pessoas vão ficar? Vão permanecer as mesmas pessoas ou vai diminuir, vai aumentar? Então nós queremos ver esse projeto com nossos próprios olhos, uma coisa que dê pra gente entender”, reforça Alonso.
Osvaldina antevê problemas, por exemplo, com o rebaixamento da plataforma, previsto na versão do projeto apresentada em 2016. Nesses primeiros meses de 2019, em dias de alta da maré, houve alagamento de parte do Ver-o-Peso. “Se arriar essa plataforma a gente vai ficar todo tempo dentro d’água. Com essa plataforma, essa feira de baixo, que nunca tinha ido no fundo, esse ano foi. Então se tirar isso aqui vai ser pior”, considera a feirante.
Além de divergências com o projeto, a dor de cabeça também diz respeito à falta de informação sobre o remanejamento dos trabalhadores. “Pra onde é que a gente vai? Eu tenho meus espaços que garantem minha venda, meu trabalho, tudo. Aí no remanejamento, seja lá pra onde for, é igual a esse tamanho? Não sei, creio que não. Como é que eu vou trabalhar? Aqui o cliente já sabe onde é a feira. E pra onde a gente vai ele sabe onde é?”, questiona Dalci.
Extraído do Blog VeroVeroPeso

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