domingo, 13 de dezembro de 2015

Presente de grego pra Belém 400 anos: a construção de uma passarela em frente ao Asilo Dom Macedo Costa





                                                                                

 A alguns dias atrás a Prefeitura de Belém anunciou que vai construir uma passarela dentro do projeto do BRT,  na frente do antigo asilo Dom Macedo Costa, ex-EGPA (Escola de Governo do Pará), patrimônio tombado pelo estado. Segundo a Superintendente da SEMOB, a obra seria para atender o grande fluxo de travessia de pedestres por causa do número de escolas na área. 
A AAPBEL e outras entidades de defesa do patrimônio questionam a obra e não aceitam mais um atentado ao nosso patrimônio, em nome de obras sem planejamento e sem estudo de viabilidade, e neste caso feita para beneficiar apenas alguns. 
Diferente do que afirma a presidente da SEMOB, Maísa Tobias, a obra não é uma necessidade da cidade. Primeiro porque ninguém atravessa a Almirante Barroso nesse trecho, pois o que existe do outro lado, por metros e metros é o quartel do 2º BIS, sem nenhuma parada de ônibus.
A passarela serviria apenas para ligar um prédio a outro, como se ver nesse trecho não há travessia de pedestres

               
Segundo, porque a menos de 200 metros a frente, na altura da Alameda Gama Malcher  já existe uma passarela que atende o fluxo de alunos da Escola Pedro do Amazonas Pedroso e pedestres.


                                                                                                       
Passarela localizada ao final dos muros do 2º BIS, a poucos metros onde se pretende erguer a nova passarela
Na verdade, a construção da passarela faz parte das negociações do Governo do Estado com o Exército, que repassou o prédio para ali funcionar a Escola Militar de Belém, o equipamento seria uma exigência do Exército para ligar o 2º BIS ao prédio da Escola Militar.
                                                                             

Essa obra além de contrariar os princípios da administração pública de moralidade, racionalidade e razoabilidade, impactará negativamente na visibildade, legibilidade, ambiência ou mesmo na estabilidade de um dos mais representativos patrimônios da Belle Époque em Belém, o antigo Asylo de Mendicidade inaugurado em 1901 pelo Intendente Antônio Lemos e que em 1935 passou a chamar-se Asilo Dom Macedo Costa.
O Asylo de Mendicidade em 1901, quando foi inaugurado
                                                                                     
                                                        

Fachada frontal, com a parada da Estrada de Ferro Belém-Bragança

A AAPBEL encaminhou ofício à SECULT questionando se o projeto foi analisado e autorizado pelo DPHAC, em caso negativo que a obra fosse imediatamente embargada.

Recebemos a resposta de que o projeto encontra-se nesse órgão para análise. Contudo, se ainda está em análise, porque a Prefeitura já iniciou os serviços?


Nesta segunda-feira, dia 15.12, faremos representação ao Ministério Público Estadual, pedindo o imediato embargo da obra já que o projeto não foi autorizado.
Pedimos à arquiteta e urbanista Rose Norat, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA uma manifestação sobre mais esse prejuízo ao nosso patrimônio numa cidade que chega aos seus 400 anos e que recebe um presente de grego dado por aqueles que deveriam protegê-la. Rose Norat, apaixonada pela cidade e pelo seu ofício, transformou sua manifestação técnica em uma bela crônica, a qual publicamos aqui:

Belém, uma estrada, seus encantos e desencantos
Roseane Norat
13 de dezembro de 2015
A outrora estrada que ligava Belém a Bragança era um dos locais mais interessantes, visual e certamente confortáveis de se viver quando de sua estruturação e configuração urbana, consolidada no final do século XIX e início do XX na esteira da expansão e prosperidade econômica da cidade, embalada pela economia do látex.
A via larga e arborizada encheu-se de rocinhas, cercadas por quintais, pomares, jardins. Sem dúvida deveria ser bucólica e encantadora. Às edificações residenciais somaram-se as estruturas públicas de arquitetura monumental para aquela escala, tais como a que atenderia aos meninos órfãos ou em situação de extrema pobreza no Instituto Lauro Sodré, aos alienados (o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, desaparecido após incêndio, localizava-se onde hoje está o campus da UEPA na esquina da Trav. Perebebuí) e aos anciãos (asilo D. Macedo Costa).
Com o passar do tempo, viu-se as mais diversas tipologias arquitetônicas se estabelecerem, com uma qualidade arquitetônica interessante inclusive as “novas arquiteturas”. Além dos exemplares ecléticos, seguiam-se as de gosto neocoloniais, art deco, os chalés urbanos, as protomodernas. Na década de 1940 a implantação das bases militares gerou a ocupação de grandes áreas institucionais, a partir da Primeira Légua, que até hoje detém interessante acervo arquitetônico distribuído em lotes arborizados que se integram harmonicamente ao conjunto urbano remanescente.
Também na outrora Tito Franco, hoje Almirante Barroso e transversais surgiriam edificações modernistas nos idos dos anos 1950/60, sejam de caráter institucional ou particular, com residências e prédios de lazer tais como as sedes dos clubes Tuna Luso Brasileira e Assembleia Paraense (esta última contudo apagou de todo essa memória e recentemente demoliu a edificação eclética que margeava a via).
Nas últimas décadas, porém, acentuaram-se as transformações iniciadas desde os anos de 1960/70, com a abertura da rodovia Belém-Brasília, somada à infraestrutura urbana do bairro Marco, herança da administração lemista. A cidade assiste a intensificação da especulação imobiliária imposta pela verticalização e alterações de padrões construtivos em detrimento ao seu acervo eclético e modernista de interesse à preservação que por suas qualidades arquitetônicas ou históricas, poderia coexistir com absoluta facilidade em diversas estruturas de uso contemporâneo, como o caso do banco instalado na esquina da Trav. Barão do Triunfo, que descaracterizou uma casa modernista passível, tranquilamente, de ser reorganizada para tal fim.
Obras e equipamentos urbanos também viriam cada vez mais modificar a paisagem. Passarelas para atender uma via já não tão bucólica e arborizada, cada vez mais “expressa”, exigindo as passagens suspensas para travessia minimamente segura de pedestres. Obras no eixo central sucedem-se nenhuma capaz de atender adequadamente aos usuários ou seus divulgados fins: entra ciclovia, sai ciclovia, entra BRT, muda BRT e os resultados não acompanham satisfatoriamente os recursos ali jorrados. Um elevado instalou-se sem maiores resultados práticos, quase em frente ao imponente Lauro Sodré, de forma que só se lhe avista bem, aqueles que vêm para a cidade. Uma passarela de pedestres que ali se instalaria ao menos foi removida, pois seria um despautério piorar ainda mais a visão daquele monumento.
Enquanto isso, ao redor do Bosque, edificações multifamiliares erguem-se ignorantes ao entorno da área verde pública e tombada pela sua importância à comunidade, seja pelo seu patrimonio paisagistico, arquitetônico e cultural, ou pela sua referência à memória coletiva. Temos na memória os passeios em que circulávamos por seus caminhos tortuosos, sob a sombra das copas verdes altas enquanto nos enebriávamos com os mistérios que seus recantos oferecem surgindo em clareiras no meio da “floresta”.  O quanto mais durararão as matas, os animais, as estruturas arquitetônicas e artísticas do agora Jardim Botânico?
Nas vésperas do tão divulgado e esperado 400 anos da cidade, eis que afoitas, as obras surgem aqui e acolá. Do BRT e o traçado da via não espero grandes coisas, quisera eu estar enganada e me surpreenda com seus resultados. Mas do que se vê e se sabe talvez não haja muito, de novo, o que comemorar. E mais recentemente, nos surpreende a divulgação de intenção de construir uma nova passarela em frente ao antigo asilo D. Macedo Costa, hoje abrigando a Escola Militar do Exército. Há uma passarela nas proximidades. E semáforos não tão distantes.
 A quem interessaria mais uma passarela em frente à bela arquitetura do asilo que ainda tem o gradil e áreas livres do lote preservadas? Seria ela imprescindível ao funcionamento da escola militar? Parece que não. Seus alunos certamente desejariam uma vista mais agradável do seu belo prédio, do que sua interceptação visual e parcial descaracterização (o conjunto é tombado e isso inclui gradis, portões, muros, escadarias e elementos anexos ao conjunto).
Possivelmente, desejariam que seus professores e diretores, alçados pelo bom senso e pelo respeito à cidade, não lhes permitisse construir ou fazer tal asneira. A cidade, onde se estabele merece mais carinho, cuidado e, podemos dizer cumplicidade. Sejamos então todos cúmplices da cidade, para o seu bem, em todas as suas dimensões. Para isso, gestores e técnicos, que detem o “poder” da decisão técnica, sejam antes humildes para reconhecer suas limitações e ouçam previamente os demais segmentos, inclusive (e nesse caso importante, pois o bem é tombado pelo Estado e isso é de domínio público) os órgãos de preservação.

Pelo que se pode observar no local, as “obras” de implantação da tal passarela estão no início. Antes paralisá-la agora do que cometer tal desrespeito para com a quatrocentona senhora Maria de Belém do Grão Pará.
 

Pátio da ala masculina, em 1903.
                           
                                                                     
                                                                                                                                             

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

FIEPA abandona e degrada casarão na Rui Barbosa

Alimentada pela impunidade, fruto da pouca capacidade de fiscalização e aplicação de penas por parte dos órgãos de preservação, é comum a prática de abandono e lenta degradação ou em alguns casos, agressões e incêndios na calada da noite, como tentativa de descaracterizar ou destruir o bem e, assim possibilitar uma nova construção em áreas de alto valor especulativo. Esse parece ser o caso do casarão localizado na Travessa Rui Barbosa, nº 1343 (entre Avenida Nazaré e Braz de Aguiar), pertencente à Federação das Indústrias do Estado do Pará - FIEPA. 

O bem em questão possui tanto proteção municipal por está inserido na área de entorno do Centro Histórico, como proteção estadual por localizar-se em área de entorno de bem tombado (Solar Barão do Guajará, atual CODEM e Largo do Redondo), além de ser classificado pelo DPHAC/SECULT como Bem de interesse à preservação. 


No ofício enviado ao IPHAN, SECULT e FUMBEL,  a AAPBEL afirma que " apesar do tapume, onde se ler um pedido de desculpas pelo transtorno por está em obras, a anos não se ver qualquer indício de serviços de obras, sequer de escoramento de suas estruturas, ao contrário além do enraizamento de vegetação, até seu telhado foi retirado, evidência clara da intenção do proprietário de que o tempo aja em seu favor e ali possa surgir um estacionamento ou um moderno anexo de suas instalações." 
Diante do crime contra o patrimônio a olhos vistos, a associação questiona os órgãos de preservação sobre as medidas administrativas e/ou judiciais tomadas, de acordo com a legislação em vigor. 
Em resposta o IPHAN informa que apesar de o bem não está protegido por tombamento federal, além de alertar a FIEPA para a necessidade de apresentar projeto de restauro, convidou a FUMBEL e a SECULT para tratar do assunto. 

O DPHAC por sua vez informa que a FIEPA em outubro de 2014, solicitou autorização para realização de serviços no imóvel, mas como não apresentou projeto para análise, a autorização foi negada, informa ainda que fará nova solicitação de projeto de restauro. 
A FUMBEL até o momento não respondeu à associação. 

O fato de a FIEPA,  dona do imovél desde 2006, deixá-lo tornar-se meros escombros para solicitar sua demolição, mostra que o problema da preservação do patrimônio está muito mais relacionado a uma falta de consciência de que a valorização de nosso patrimônio cultural pode e deve tornar-se um instrumento transformador e gerador de desenvolvimento social e econômico, do que à falta de recursos para sua manutenção. E a participação da sociedade é imprescindível nesse processo, assim se esperaria da FIEPA, como instituição que tem um nome a zelar pelo que representa, uma atitude menos predatória e mais responsável com o patrimônio e com a identidade cultural de uma cidade que chega aos seus 400 anos. 



segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Palacete Passarinho e a Churrascaria Boi Novo



Ao publicarmos denúncia da obra irregular que estava sendo executada no Palacete Passarinho, sem autorização do Departamento de Patrimônio da Secult ( http://aapbel.blogspot.com.br/2015/11/secult-notifica-proprietario-do.html) recebemos o seguinte comentário anônimo, que acreditamos ser de alguém que represente os interesses do proprietário:
"Venho por meio deste comentário informar que os projetos já foram protocolados junto aos órgãos competentes,e que o PALACETE PASSARINHO Jamais, repito JAMAIS,será demolido. Pelo contrário será restaurado com objetivo de recuperar o glamour deste importante patrimônio histórico a época ao qual ele foi construído."
Mas, infelizmente o que começou de forma errada, sem respeitar as leis de preservação, redobra a preocupação da sociedade, pois o novo uso a ser dado ao imóvel, exigirá muita cautela para não descaracterizar o palacete e seus jardins tombados.
Segundo informações que obtivemos, o imóvel foi alugado para a churrascaria "Boi Novo", no contrato o palacete não seria usado para a churrascaria, apenas para eventos, desde que o locatário se comprometa em fazer uma reforma. Para as instalações da churrascaria será construído um novo prédio ao lado do palacete, para o qual já estavam fazendo as fundações, quando tiveram a obra embargada pelo DEPHAC.

Um projeto de churrascaria nos jardins do palacete exigirá projeto  tecnicamente adequado que não comprometa a ambiência e atenda a visibilidade, perspectiva, iluminação, emolduração ambiental e ornamentação da inteireza do complexo monumental, o mesmo se exigirá de um possível projeto de restauro do palacete.
A sociedade permanecerá atenta ao processo e acreditamos que o DEPHAC/SECULT, exigirá projeto compatível e não permitirá construção contrastante com o aspecto formal, estilístico ou com o significado histórico do monumento.


domingo, 22 de novembro de 2015

Promotoria de Meio Ambiente se compromete com fortalecimento da proteção urbanística da Orla de Belém




Representantes de entidades que atuam no Movimento Orla Livre reuniram no último dia 11 de novembro com o Dr. Raimundo Moraes, Promotor de Meio Ambiente para pedir sua intervenção no sentido de fortalecer a legislação urbanística de proteção da orla de Belém contra a verticalização desordenada e de regulamentar diversos instrumentos do Plano Diretor de Belém. O promotor afirmou que a regulamentação do Plano Diretor faz parte do planejamento da promotoria de meio ambiente e comprometeu-se a realizar oficinas com os movimento sociais visando a construção de uma pauta conjunta. 

O licenciamento da construção de um edifício de 24 andares (Edifício Premium), às margens da Baía do Guajará, dentro da faixa de orla Setor A2 (Umarizal-Telegráfo), cujo limite é a Av. Pedro Alvares Cabral alertou para uma fragilidade dentro do Plano Diretor aprovado em 2008. O Anexo X (Quadro de Modelos Urbanísticos), permite para a ZAU-5 (Zona de Ambiente Urbano), um Coeficiente de Aproveitamento Máximo (gabarito das construções), que ao ser aplicado em toda zona, sem excluir a faixa de orla da ZAU-5, abre uma brecha para interpretações que favoreçam a verticalização às margens da baía. O que em nosso entendimento e dos diversos segmentos sociais que representamos, está em absoluto desacordo com as diretrizes preconizadas no Plano Diretor do Município e contraria abertamente a legislação ambiental, especialmente o atual Código Florestal, que criou as Áreas de Proteção Permanente - APPs  urbanas, assim definidas: "área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas"; de acordo com  art. 4º são consideradas  áreas de preservação permanente:



Vejamos o que diz o Plano Diretor de Belém sobre a proteção da orla, em vários de seus artigos. A área em questão corresponde a trecho da orla da Baía do Guajará, caracterizada como um Corredor de Integração Ecológica (Art.s 65 e 66) e integra a Zona de Ambiente Urbano 5 – ZAU 5 (Art. 95, Anexo IV) e a Zona Especial de Interesse Ambiental – ZEIA/Setor A (art. 111, § 1º , Anexo VI).  Assim para a área em particular temos:

Art. 8º São diretrizes da Política de Desenvolvimento Econômico do Município:
XVIII - requalificar as áreas de orlas do Município de Belém, estabelecendo as atividades sócioeconômicas e os usos compatíveis com o desenvolvimento humano e a preservação do meio ambiente;

Art. 65 Ao longo da rede hídrica que compõe o Município ficam instituídos Corredores de Integração Ecológica, com os seguintes objetivos:
...
VI - ampliar os espaços de lazer ativo e contemplativo, criando progressivamente Parques Lineares ao longo dos cursos d’água não urbanizados, de modo a atrair empreendimentos de baixo impacto ambiental para a vizinhança de entorno;
...

Art. 66 Para a efetiva implementação dos programas de Corredores de Integração Ecológica, deve ser prevista uma faixa de domínio ao longo dos cursos d’água, determinando larguras mínimas e máximas, conforme as situações abaixo: I - cursos d’água com presença de vegetação ainda preservada: a) considera-se área non aedificandi a faixa de trinta metros ao longo de cada uma das margens dos cursos d’água, destinada à implantação dos Corredores de Integração Ecológica; b) após a faixa delimitada na alínea “a”, considera-se uma faixa non aedificandi de setenta metros permitindo-se apenas o uso de áreas verdes provenientes de empreendimentos urbanísticos, públicos ou privados, objeto de parcelamento do solo para a implantação de Parques Lineares.

Art. 75 São diretrizes do ordenamento territorial do Município de Belém:
VIII - ordenar a ocupação verticalizada nas orlas fluviais e nas áreas de baixadas;

Art. 81.  São diretrizes da Macrozona do Ambiente Urbano (MZAU):
I - viabilizar atividades sócioeconômicas compatíveis com o desenvolvimento sustentável, valorizando a paisagem e a proteção do meio físico, como elemento fundamental da paisagem urbana;
II - resgatar áreas da orla fluvial, das praias e margens dos cursos d’água, objetivando a proteção e preservação do meio ambiente;

Art. 111.Constituem-se Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIA), da Macrozona do Ambiente Urbano (ANEXO VI):
VI - orla continental do rio Guamá e baía do Guajará;
§1º. As orlas urbanizadas do Município ficam definidas como zonas de interesse para fins de recuperação urbanística, paisagística e do patrimônio arquitetônico, identificadas no ANEXO VI como Setor A.

Art. 129.  As Zonas Especiais de Promoção Econômica 3 (ZEPE 3) são porções do território municipal caracterizadas pela integração dos elementos naturais, artificiais e culturais, que compõem o patrimônio ambiental do Município dotadas de potencial turístico, assim definidas nesta Lei:
 I - Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIA);
II - Zonas Especiais de Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural (ZEIP);
III - orla continental e orla da região insular do Município

Art. 131. São diretrizes para a ZEPE 3:
I - requalificar as áreas de orla;
II - melhorar a infra-estrutura para potencializar a atividade turística;

Contudo, tais diretrizes legais, compromisso público de gestão urbana, não foram atendidas, posto que apesar de todos esses aspectos, o poder público municipal autorizou a construção do dito Edifício Premium, que se constitui em empreendimento de grande porte, pois certamente um edifício de 24 andares não pode ser classificado como um empreendimento urbanístico de baixo impacto ambiental, os únicos permitidos para os corredores ecológicos e tampouco está de acordo com as diretrizes tanto da Macrozona de Ambiente Urbano(MZAU) e menos ainda com os objetivos da Zona de Interesse Ambiental (ZEIA).

Para nós e todos que pensam a cidade a partir da sua função social, como estabelece o Estatuto das Cidades e de acordo com o que prevê o Plano Diretor de Belém, a orla continental do Rio Guamá e Baía do Guajará é uma Zona Especial de Interesse Ambiental (ZEIA), ou seja, é uma área, cujos elementos naturais do ambiente natural assumem função de interesse público, por serem importantes para a manutenção do equilíbrio socioambiental do Município; e para tanto essas áreas em processo de degradação, devem ser recuperadas e destinadas preferencialmente ao lazer da população, a equipamentos  públicos, parques, combinados com habitação de interesse social, de forma a contribuir para valorizar a integração entre o patrimônio natural e o patrimônio construído. Daí resultar a impropriedade da utilização da orla para edificação de empreendimento de alto impacto ambiental, que por sua natureza contrariam a possibilidade de plena utilização pública. Assim, para conter pressões do setor imobiliário e possíveis contradições na aplicação da lei, é que o Movimento Orla Livre defende a correção do anexo X - Quadro de Modelos urbanísticos, do Plano Diretor de 2008, através de projeto de Lei encaminhado pelo Prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, que tem dito publicamente não concordar com a verticalização da Orla de Belém. 
Esse sim seria um grande presente para a cidade em seus 400 anos!



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

SECULT notifica proprietário do Palacete Passarinho por obra irregular


Na última terça-feira a Associação recebeu denúncia de que estariam demolindo o Palacete Passarinho, localizado na Avenida Magalhães Barata, ao lado do Parque da Residência. O belo palacete eclético, construído em 1925 pelo Engenheiro José Sidrim,  é tombado na esfera estadual desde 04.10.2004. 

Encaminhamos a denúncia ao DPHAC - Departamento de Patrimônio Histórico, Arquitetônico e Cultural da SECULT, solicitando as seguintes informações: 
"1 - Foi apresentado pelo proprietário, projeto de reforma do bem? Foi autorizado?
2 - Em caso de descumprimento dos artigos 19 e 20 da Lei nº 5.629/1990, quais as medidas administrativas tomadas por esse órgão de preservação?"

Hoje recebemos a seguinte resposta da Diretora do DPHAC, arquiteta Thais Zumero Toscano:
 "Ontem, encaminhamos uma equipe de fiscalização, e se constatou a ocorrência de demolições no gazebo extemporâneo, que não foram aprovadas.
De acordo com o trâmite exposto na Lei 5.629, expedimos Notificação, com prazo de 48 hs para comparecimento do proprietário ao DPHAC de posse do projeto arquitetônico. Ao mesmo tempo, as demolições, apesar de serem, ratifico, no anexo extemporâneo, foram paralisadas.
O prazo da Notificação finda-se nesta sexta-feira. Se o proprietário não comparecer, e de acordo com o trâmite processual serão expedidos Auto de Infração, respeitando os prazos e posteriormente Embargo."

A Secult agiu rápido para impedir a obra irregular e talvez evitar mais um prejuízo ao nosso patrimônio, de acordo com o que dita a lei estadual do Patrimônio, art. 20: O bem tombado só poderá ser reparado, pintado, restaurado ou sofrer qualquer forma de intervenção, com prévia autorização documentada do DPHAC ou AMPPPC, aos quais caberão prestar orientação e acompanhamento à obra ou serviço.


domingo, 8 de novembro de 2015

Orla Livre quer mudar o Plano Diretor

Lutar para mudar o anexo do Plano Diretor da Cidade de Belém, que permite a construção de prédios multifamiliares de até 30 andares próximo à orla da cidade. Essa tem sido a principal discussão do Movimento Orla Livre, segundo Nádia Brasil, presidente da Associação dos Amigos do Patrimônio de Belém (Apabel), entidade sem fins lucrativos, que faz parte do movimento. Uma reunião com o promotor Raimundo Morais está agendada para 11 de novembro, para discutir essa questão e pedir que o Ministério Público Estadual cobre da Prefeitura de Belém a mudança desse anexo do Plano Diretor. “O Plano tem todas as diretrizes e objetivos protegendo a orla, porém, no anexo, ele abre espaço para a construção próxima da orla. E isso não pode ocorrer. Queremos a imediata correção no Plano Diretor. Já tem precedente com o edifício Premium. Isso pode abrir para outras construtoras. Essa deve ter sido uma forma achada pelas empresas para colocar de brecha no Plano Diretor”, afirma Nadia Brasil.
Outra questão que é considerada uma vitória para o movimento é o cancelamento da Inscrição de Posse da área do prolongamento da Travessa Manoel Evaristo e que deveria dar acesso ao rio. Recentemente, a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) fez o cancelamento do local que havia sido incorporado indevidamente pela construtora do edifício Premium, que fica na esquina da Rua Nelson Ribeiro com Travessa Manoel Evaristo. 
“Agora esperamos um projeto de urbanização do local. E vamos continuar lutando para que outras localidades de Belém sejam liberadas e as pessoas possam ter acesso a orla da cidade. Mesmo que demore. O que interessa é que a rua seja de uso comum da população”, afirma. 
Sobre a questão do edifício Premium, Nadia explica que está nos tribunais de Justiça tanto estadual como federal. “Mas está parado o andamento do processo e a obra continua”, comenta. 
Ela conta que o Movimento Orla Livre existe desde 2007 e surgiu na época da discussão da construção do Portal da Amazônia, sendo realizadas várias audiências públicas. “O projeto da orla tinha um planejamento e diagnóstico integrada das esperas públicas e da população. Depois que o Portal da Amazônia ficou pronto, o movimento se deslocou um pouco para outras questões. Mas retornamos quando foi percebido que o edifício Premium estava ocupando a orla e tudo de maneira irregular. Nessa hora percebemos que, se não discutíssemos a orla, a tendência seria a privatização da mesma por várias construtoras. Porque é a ‘joia da coroa’ das construtoras. Belém teve uma expansão desordenada. E tem muitos locais que estão saturados e as construtoras se voltam para essa área da orla. Tem populações tradicionais na orla, mas se não houver ordenamento da orla que concilie a questão ambiental, socioeconômica, a tendência é que as construtoras acabem ganhando por meio do interesse privatista”, comenta. 
Para Nádia Brasil, a única forma de barrar essa tendência é o poder publico ter políticas de planejamento da orla. “Queremos um projeto de orla integrado, com as partes que são públicas livres. Vamos continuar lutando por um projeto macro de ordenamento da orla discutido com os moradores de Belém e os movimentos sociais. Todo mundo tem que participar”, afirma.
(Extraído do jornal "O Liberal", de 08.11.2015)