Terreno após a demolição, pronto para receber uma torre residencial |
Casa ainda preservada |
Detalhe da edificação |
Causou estranheza a celeridade
com que a Fumbel e o Conselho Municipal de Patrimônio de Belém analisaram e
indeferiram o pedido de tombamento da casa situada na avenida Conselheiro
Furtado, adiante de vários processos que se encontram há anos aguardando
conclusão. O pedido de tombamento foi protocolado no dia 25.05.2016 e já no dia
18.08.2016, o Conselho indefere o pedido.
O bem arquitetônico
em questão trata-se de edificação unifamiliar construída em meados de 1970, a
partir de projeto do Arquiteto Roberto de La Rocque Soares, integrante da 1ª
Turma de Arquitetura da UFPa e engenheiro de uma das primeiras turmas de
Engenharia da UFPa
Sua singularidade devia-se ao fato de ser um
dos únicos registros de Arquitetura Brutalista, tendência do modernismo, que existia em nosso Estado, uma vez que
o prédio do Tribunal de Contas do Estado, outro exemplo em Belém, já teve a sua
fachada alisada, perdendo suas características originais.
Para justificar
o pedido de tombamento, a AAPBEL alegou que “o
bem de inestimável valor pelo seu significado histórico e pelas técnicas e
materiais construtivos hoje pouco utilizados, apresenta-se bem preservado e
digno de proteção legal por ser exemplar único nessa concepção formal para a
tipologia residencial unifamiliar com o uso dessa técnica e plástica
construtiva, visto o risco de desaparecimento na paisagem urbana pela
construção de edificação multifamiliar por meio da Construtora Síntese.”
Justificou-se também pelo fato de que “a
edificação encontra-se localizado em área fora do Centro Histórico de Belém,
única área de proteção patrimonial determinada por legislação municipal e
federal. Além disso, por não haver nenhum tombamento ou área de entorno
incidindo sobre o prédio em questão, não havendo nada que obrigue o atual
proprietário a preservar o bem e suas características originais.”
Ao indeferir o
tombamento, a FUMBEL faz verdadeiro malabarismo entre reconhecer o valor
estético e histórico do bem e ao mesmo
tempo negar a importância de sua preservação: “Ao
analisarmos o pedido de tombamento, entendemos que o mesmo, é dotado de valores
estéticos e históricos, pois durante a década de 70 do século XX ele
representava uma arquitetura ousada e inovação para padrões da época. Porém,
quanto ao aspecto histórico, não percebemos que faça referência à
identidade à ação ou à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade belenense. “ Assim a FUMBEL, com a chancela do Conselho
Municipal de Patrimônio, desconsidera um dos aspectos singulares da nossa
cidade, que é a riqueza de seu conteúdo arquitetônico e urbanístico em diversas
épocas, mesclando o colonial, o eclético, o art-noveau, o neo-colonial, o
raio-que-o-parta, o modernista e suas tendências, o regionalista.
Já que com o
pedido de tombamento, todo bem cultural passa a contar com a proteção legal,
até que seja analisado e dado parecer final, ao correr para indeferir o pedido,
a Fumbel e o Conselho Municipal de Patrimônio, avalizaram a demolição do bem,
que já havia sido autorizada pela SEURB, para construção de um condomínio. A
FUMBEL mais uma vez lavou suas mãos, eximindo-se de cumprir seu papel de
preservar nosso patrimônio, pois ao invés de simplesmente ceder à
pressão da construtora Síntese para demolição, poderia ter recomendando a
alteração do projeto, de forma que a casa pudesse ser preservada e incorporada
ao mesmo, dando novo uso ao bem.
O pedido de
tombamento a nível estadual, que ainda tramitava na SECULT e que lhe garantiria proteção até a conclusão do
processo, também não foi capaz de evitar a demolição do imóvel, que não mereceu
sequer qualquer manifestação por parte da SECULT diante do crime de
desobediência à lei e mais uma vez Belém confirma sua triste sina de ser a
cidade do “Já teve”.
Que tristeza! :(
ResponderExcluirMuito triste a situação do patrimônio histórico de Belém. Outros imóveis também estão jogados a própria sorte.
ResponderExcluirÉ o retrato da incompetência, do descaso, da ignorância,da burrice da atual administração do município.
ResponderExcluirMuito triste. Quem não valoriza o passado não merece o futuro. Muito triste.
ResponderExcluirExiste um prédio na esquina da Mundurucus, esquina com a 14 de abril que é no mesmo estilo. Inclusive, pertencia ao mesmo dono desta casa que foi demolida. Ou seja, este não era o último exemplar!
ResponderExcluirOi. Sou acadêmica de história e estou fazendo uma pesquisa sobre o casarão José porfirio em icoaraci, porém não estou conseguindo fontes sobre a origem do casarao, os donos atuais, sobre o descaso patrimonial e a preservação da memória. Visto que este patrimônio tem menor visibilidade que os demais conhecidos em icoaraci a exemplo o chalé Tavares Cardoso e a casa do poeta ... seria possível entrar em contato com vocês do Blogger para conversar meu número é 98817-5151 meu zap tbm.. estou no aguardo....
ResponderExcluirTentei lembrar de algum edifício brutalista de Belém e não consegui. Vim pesquisar e acabei aqui. Uma pena ver a história apagada. Gostei de ter me recordado do tribunal.
ResponderExcluirNo momento, decidi incluir um edifício de estética brutalista na proposta do projeto do Parque da Cidade que estou preparando pra Belém. Tenho receio de que o público paraense não se identifique com o Brutalismo, já que carece de referências. Mas será uma oportunidade pra Belém entrar na lista das cidades com Grandes Obras Brutalistas, como Rio de Janeiro e São Paulo.