segunda-feira, 1 de junho de 2015

BELÉM em 400 GRITOS


              
Após a poeira do treme-terra abaixada
vê-se os escombros do único bosque-bucólico
os dejetos em cacos do último theatro
sepultado em Paz
pedaços picados da bella-baptista-praça
sempre mal-abraçada
os casarões rasgados
em nuvens voando
levando a ímpar-época
de rica riqueza capaz de imaginar uma
metrôpole cravada-de-madreperolas
broche requintado
na pele da densa-mata verde
embriagada pelas abundandes-águas
dos sedimentos sentimentais melancólicos
cheiros saborosos em profusão tacacazeiras
perfumarias das mitologias Phebos
fontes-renascentistas jamais brotadas
dos italianos projetos engavetados
nos parcos palácios ainda existentes
em completa ruínas
mas de muitas mentalidades provincianas
que tatuam o dna dos proprietários
das vias intrafegáveis
desta Luzitânia Feliz
infelizes raízes fincadas nessas terras úmidas
simbólica arborização centenária
criada para dar ao abafado ar
sensações de florestas-das-lendas
de variadas visagens malassombradas
que partiram no derradeiro trem que se partiu
nos campos bragantinos
antes que os seus solos sagrados das Soledades
em completo esquecimento
não se transformem num outro mil shopping-centres
que ora frutificam mais que mangas
antigamente caídas em torrenciais chuvas grão-paraoaras benignas
Desespero e desolamento
reinam actuais no chão-batido
após cada desmoronamento eleitoreiro
depois de cada estação infernal eleitoral
que produz apenas o senso da terra arrasada
d’uma « Paris n’América », agora já, devastada
da urbis et orbi moderna impraticável
de urubus-cidadãos
presos à carniça que apodrece
sem nunca chegarem aos pés
dos quase extintos
periquitos-pequenos, ruidosos-alegres,
em cânticos carimbolescos numa
Samaumeira-nazarena Majestuosa.

                      Augusto Velloso-Pampolha, filho pródigo dessa terra.


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