segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Duas passarelas e uma cidade subjugada


Quando em 2006, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, passou a ter sua sede no antigo Colégio Lauro Sodré, para atender a conveniência do novo uso e de seus poderosos inquilinos, a passarela que existia ao lado do prédio foi retirada, mesmo existindo nas imediações três escolas, a E.E Cordeiro de Farias, a E.E. Albanizia de Oliveira, a E.E. Anésia Meira, além das duas escolas que foram desativadas para dá lugar ao tribunal ( Colégio Lauro Sodré e E.E. Iolanda Martins, esta de educação especial).

Lugar onde se localizava a passarela retirada em 2006, entre o Lauro Sodré e a Escola Albanizia de Oliveira 

O antigo Instituto de Artífices do Pará
Refeitório do Instituto de Artífices do Pará

Com a retirada da passarela, a magnífica edificação construída em 1872 para ser o Instituto de Artífices do Pará,  pôde voltar a ser contemplada em toda sua monumentalidade por um raio de distância bem maior, após muitos anos ter seu campo de visão encoberto, tanto do ponto de vista de quem saia do centro rumo à BR-364, por causa do viaduto construído na Avenida Dr. Freitas, como do ponto de vista de quem entrava na cidade rumo ao centro, devido à passarela.



Em 2015, após o governo do estado transferir o prédio onde funcionava a Escola de Governo do Estado para o Comando Militar do Norte, para ali ser instalada a Escola Militar de Belém, fomos surpreendidos com a notícia de que de dentro dos jardins do imóvel sairá uma passarela ligando a Escola ao quartel do 2º BIS, mesmo existindo uma passarela a alguns metros dali.



De comum entre as duas passarelas, uma cidade que é pensada e planejada a partir da lógica dos interesses imediatistas de segmentos poderosos da sociedade, uma cidade onde a preservação e valorização do seu patrimônio cultural é apenas um efeito colateral da subjugação a esses interesses e não um fim em si mesmo.
E assim vamos acumulando prejuízos aos longos desses 4 séculos, sempre sob o falacioso discurso do progresso e do desenvolvimento, como se passado e presente fossem dissociáveis e inconciliáveis.


A Aapbel e outras entidades de defesa do patrimônio foram convidadas para uma reunião no Comando Militar do Norte no último dia 22.12. Ainda que ressaltemos a gentileza da atitude e termos alimentado a expectativa de sermos ouvidos, a reunião serviu apenas para que os responsáveis pela Escola Militar expusessem o projeto da escola e os benefícios que a mesma trará para a cidade, mostrando-se irredutíveis em repensar o projeto de colocar uma passarela dentro do imóvel, interceptando visualmente o bem tombado e provocando sua parcial descaracterização.  Para os dirigentes da nova escola, o equipamento é uma questão de segurança para as crianças e jovens que se deslocarão entre um prédio e outro para realizar algumas atividades curriculares.
A sociedade está fazendo sua parte, ao lutar contra a degradação e pela preservação e valorização do seu patrimônio e exigir dos gestores públicos mais respeito à nossa memória.
A Aapbel apresentou denúncia à Promotoria de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural e a Associação Cidade Velha, Cidade Viva também fez representação junto à Promotoria de Moralidade e Patrimônio Público, questionando a razoabilidade da obra de uma passarela a poucos metros de uma já existente.
A Promotoria de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, através da promotora Ângela Balieiro abriu inquérito administrativo e já pediu informações à SECULT, à SEURB e à SEMOB.
Leia mais aqui: http://aapbel.blogspot.com.br/2015/12/presente-de-grego-pra-belem-400-anos.html

O direito à paisagem constitui-se um dos elementos mais importantes da identificação de um indivíduo com a vida da cidade. O enfeiamento da cidade é a destruição da sua identidade e portanto, contribui para a degradação do próprio conceito de cidadania.
Hoje, aniversário da cidade, a atual gestão da Prefeitura de Belém sem nada de significativo para inaugurar e que possa ser chamado de seu, incluiu a inauguração da Escola Militar de Belém na programação oficial da comemoração dos 400 anos de Belém, a cidade merece bem mais do que isso! Merece a Escola Militar, mas não merece ser subjugada às vaidades e aos caprichos de suas elites governantes, outros 400 é possível!




3 comentários:

  1. Enquanto a cidade e o estado forem comandados por pessoas que pensam apenas em suas conveniências e que sempre se dobrem aos interesses dos poderosos, continuaremos a ser a cidade e o estado do " já teve ".

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