terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Belém perde mais uma casa modernista e obra do Colégio Integrado é embargada!

A casa ainda com suas linhas originais preservadas

Às vésperas de completar 405 anos,  Belém perde mais um exemplar da sua arquitetura modernista, projetado pelo Engº Camilo Porto de Oliveira. A casa localizada na Avenida Gentil Bittencourt, 436, que já vinha paulatinamente sendo descaracterizada, foi quase que totalmente demolida no final de semana para dar lugar ao projeto de uma unidade do Colégio Integrado Belém. 

O atual proprietário poderia ter optado por executar um projeto que resgatasse o bem para a cidade, restaurando e readequando para o novo uso, mas lamentavelmente preferiu demoli-lo, agindo ao largo da lei. 


A demolição foi executada sem autorização dos órgãos de preservação e tampouco o proprietário possui projeto aprovado e nem Alvará de construção. O imóvel tem proteção legal tanto do IPHAN, como da FUMBEL, por estar na área de entorno do Centro Histórico de Belém, tombado por Lei Federal e Municipal e nesta segunda feira (11.01), a obra foi embargada pela Prefeitura e pelo IPHAN. 

O desaparecimento de mais um exemplar da arquitetura modernista do acervo arquitetônico de Belém, chama a atenção para a necessidade urgente de ações de preservação desse patrimônio por parte dos órgãos de preservação, através do reconhecimento, inventário, tombamento e salvaguarda, uma vez que muitos estão localizados nos eixos de expansão urbana da cidade, fora da área tombada.  

Obra embargada pela SEURB/FUMBEL  e IPHAN

O modernismo foi um momento de transformação artística que pautou diversas linguagens no mundo. Seu impacto na construção veio com força a partir da década de 30, com o apoio do presidente Getúlio Vargas, impulsionando projetos modernos para dar essa cara de futuro ao seu governo. O modernismo brasileiro acabou desenvolvendo os próprios rumos, inclusive em função do clima tropical do país. Cobogós nas fachadas, rampas de acesso, plantas livres (espaços abertos em que cômodos interagem), pilotis (colunas no lugar de paredes estruturais), janelas em fila (formato em que as edificações ficam percorridas por elas) e brises-soleils (filetes de concreto que direcionam a incidência solar e o vento) são algumas das características do período, atentando à funcionalidade dos elementos, à valorização de formas simples como linhas curvas e desenhos geométricos, primando sobretudo pelo surpreendente aspecto de amplitude e de espaços abertos. No Pará, o movimento chegou à arquitetura nos anos 40. No período ainda não havia faculadade de arquitetura na capital, entãi era comum que engenheiros fizessem as vezes de arquitetos ao aplicar as referências modenistas nas edificações, principalmente em áreas que haviam sido urbanizadas recentemente. O engenheiro Camilo Porto de Oliveira foi um dos grandes nomes da época: residências famosas como a Casa Bittencourt (1955), a Casa Belisário Dias (1954) e a Casa Presidente Pernambuco (ano desconhecido) levam sua assinatura. Além delas, a sede social do Clube do Remo (1958) e seus inspirados arcos parabólicos, também está no seu currículo, bem como o marcante edifício Dom Carlos, repleto de linhas onduladas, rampas e outras ousadias estruturais, que se tornaram a face imediata do modernismo local.



 


 


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