quarta-feira, 11 de março de 2020

SOBRE OS ALAGAMENTOS E CONVERSA DOS POLÍTICOS


A propósito do que acontece nos últimos dias em Belém. O problema do alagamento é um pouco diferente em cada área: 1) nas áreas mais próximas da ocupação mais moderna, com prédios e ocupação total quase dos quintais, inclusive com impermeabilização, o problema das enchentes está bem relacionado com a impermeabilização e consequente escoamento em grandes volumes que alagam ruas e casas. Claro que isso acontece quando a precipitação é intensa; 2) nas baixadas, onde o problema da impermeabilização de superfícies é menor, mas a ocupação de áreas muito baixas ocorreu desde muito tempo e cada vez mais piora. Nesse caso o problema está relacionado com o entupimento de tubulações de escoamento e dos canais. Ainda com o assoreamento dos canais, que por tudo isso perdem em vazão. E, para complicar, temos períodos com precipitações muito elevadas, como agora. Nesse caso, não há como se esperar outra coisa do que alagamentos. A Prefeitura pode minorar o problema com a limpeza de tubulações, dos canais e dragar o fundo para eliminar o assoreamento. Mais difícil é retirar os ocupantes de áreas baixas, que nunca deveriam ter sido ocupadas. Mas, onde a população excluída, acaba morando, ou seja onde dá. Nas áreas mais próximas de maior urbanismo, tanto de terrenos como das ruas, o erro foi sempre não considerar que a água precisa ter seu espaço. Essa falta de visão remonta desde a época em que sufocaram o Piri. Se a 300 anos tivessem pensado a cidade só para as áreas altas, nada dos problemas de alagamento de hoje existiriam. Quando o Prefeito Zenaldo fala de esforço grande que ele faz, o que não é verdade, pois esse esforço só ocorre nos momentos cruciais, trágicos, ele não pode dar esperança de solução dos problemas, porque eles são antigos e ocasionados pela existência dessa sociedade e cidade excludente, que expulsa os pobres para os piores lugares para morar. Belém não tem solução fácil, nem mesmo difícil a ser executada em curto e médio prazo. A longo prazo só uma grande transformação social pode contribuir para mudar a situação de alagamentos em zonas habitadas e ruas. Somos um estado subdesenvolvido. Não adianta quererem entrar para a OCDE (alguém diz isso ao presidente), porque a realidade não se transforma através de desejos irreais.

Por José Francisco da F. Ramos, geólogo e professor aposentado da UFPA, membro da AAPBEL.


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