A propósito do que acontece nos últimos dias em Belém. O
problema do alagamento é um pouco diferente em cada área: 1) nas áreas mais
próximas da ocupação mais moderna, com prédios e ocupação total quase dos
quintais, inclusive com impermeabilização, o problema das enchentes está bem
relacionado com a impermeabilização e consequente escoamento em grandes volumes
que alagam ruas e casas. Claro que isso acontece quando a precipitação é
intensa; 2) nas baixadas, onde o problema da impermeabilização de superfícies é
menor, mas a ocupação de áreas muito baixas ocorreu desde muito tempo e cada
vez mais piora. Nesse caso o problema está relacionado com o entupimento de
tubulações de escoamento e dos canais. Ainda com o assoreamento dos canais, que
por tudo isso perdem em vazão. E, para complicar, temos períodos com
precipitações muito elevadas, como agora. Nesse caso, não há como se esperar
outra coisa do que alagamentos. A Prefeitura pode minorar o problema com a
limpeza de tubulações, dos canais e dragar o fundo para eliminar o
assoreamento. Mais difícil é retirar os ocupantes de áreas baixas, que nunca
deveriam ter sido ocupadas. Mas, onde a população excluída, acaba morando, ou
seja onde dá. Nas áreas mais próximas de maior urbanismo, tanto de terrenos
como das ruas, o erro foi sempre não considerar que a água precisa ter seu
espaço. Essa falta de visão remonta desde a época em que sufocaram o Piri. Se a
300 anos tivessem pensado a cidade só para as áreas altas, nada dos problemas
de alagamento de hoje existiriam. Quando o Prefeito Zenaldo fala de esforço grande
que ele faz, o que não é verdade, pois esse esforço só ocorre nos momentos
cruciais, trágicos, ele não pode dar esperança de solução dos problemas, porque
eles são antigos e ocasionados pela existência dessa sociedade e cidade excludente,
que expulsa os pobres para os piores lugares para morar. Belém não tem solução
fácil, nem mesmo difícil a ser executada em curto e médio prazo. A longo prazo
só uma grande transformação social pode contribuir para mudar a situação de
alagamentos em zonas habitadas e ruas. Somos um estado subdesenvolvido. Não
adianta quererem entrar para a OCDE (alguém diz isso ao presidente), porque a
realidade não se transforma através de desejos irreais.
Por José Francisco da F. Ramos, geólogo e professor aposentado da UFPA, membro da AAPBEL.
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