segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Prefeitura de Belém e SECULT autorizam demolição de casa brutalista



Terreno após a demolição, pronto para receber uma torre residencial 

Casa ainda preservada

Detalhe da edificação 

Causou estranheza a celeridade com que a Fumbel e o Conselho Municipal de Patrimônio de Belém analisaram e indeferiram o pedido de tombamento da casa situada na avenida Conselheiro Furtado, adiante de vários processos que se encontram há anos aguardando conclusão. O pedido de tombamento foi protocolado no dia 25.05.2016 e já no dia 18.08.2016, o Conselho indefere o pedido.
O bem arquitetônico em questão trata-se de edificação unifamiliar construída em meados de 1970, a partir de projeto do Arquiteto Roberto de La Rocque Soares, integrante da 1ª Turma de Arquitetura da UFPa e engenheiro de uma das primeiras turmas de Engenharia da UFPa
Sua singularidade devia-se ao fato de ser um dos únicos registros de Arquitetura Brutalista, tendência do modernismo,  que existia em nosso Estado,  uma vez que o prédio do Tribunal de Contas do Estado, outro exemplo em Belém, já teve a sua fachada alisada, perdendo suas características originais.
Para justificar o pedido de tombamento, a AAPBEL alegou que “o bem de inestimável valor pelo seu significado histórico e pelas técnicas e materiais construtivos hoje pouco utilizados, apresenta-se bem preservado e digno de proteção legal por ser exemplar único nessa concepção formal para a tipologia residencial unifamiliar com o uso dessa técnica e plástica construtiva, visto o risco de desaparecimento na paisagem urbana pela construção de edificação multifamiliar por meio da Construtora Síntese.” Justificou-se também pelo fato de que “a edificação encontra-se localizado em área fora do Centro Histórico de Belém, única área de proteção patrimonial determinada por legislação municipal e federal. Além disso, por não haver nenhum tombamento ou área de entorno incidindo sobre o prédio em questão, não havendo nada que obrigue o atual proprietário a preservar o bem e suas características originais.”
Ao indeferir o tombamento, a FUMBEL faz verdadeiro malabarismo entre reconhecer o valor estético e histórico do bem e  ao mesmo tempo negar a importância de sua preservação:  “Ao analisarmos o pedido de tombamento, entendemos que o mesmo, é dotado de valores estéticos e históricos, pois durante a década de 70 do século XX ele representava uma arquitetura ousada e inovação para padrões da época. Porém, quanto ao aspecto histórico, não percebemos que faça referência à identidade  à ação ou à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade belenense. “  Assim a FUMBEL, com a chancela do Conselho Municipal de Patrimônio, desconsidera um dos aspectos singulares da nossa cidade, que é a riqueza de seu conteúdo arquitetônico e urbanístico em diversas épocas, mesclando o colonial, o eclético, o art-noveau, o neo-colonial, o raio-que-o-parta, o modernista e suas tendências, o regionalista.
Já que com o pedido de tombamento, todo bem cultural passa a contar com a proteção legal, até que seja analisado e dado parecer final, ao correr para indeferir o pedido, a Fumbel e o Conselho Municipal de Patrimônio, avalizaram a demolição do bem, que já havia sido autorizada pela SEURB, para construção de um condomínio. A FUMBEL mais uma vez lavou suas mãos, eximindo-se de cumprir seu papel de preservar nosso patrimônio, pois ao invés de simplesmente ceder à pressão da construtora Síntese para demolição, poderia ter recomendando a alteração do projeto, de forma que a casa pudesse ser preservada e incorporada ao mesmo, dando novo uso ao bem.  
O pedido de tombamento a nível estadual, que ainda tramitava na SECULT e que lhe garantiria proteção até a conclusão do processo, também não foi capaz de evitar a demolição do imóvel, que não mereceu sequer qualquer manifestação por parte da SECULT diante do crime de desobediência à lei e mais uma vez Belém confirma sua triste sina de ser a cidade do “Já teve”.



7 comentários:

  1. Muito triste a situação do patrimônio histórico de Belém. Outros imóveis também estão jogados a própria sorte.

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  2. É o retrato da incompetência, do descaso, da ignorância,da burrice da atual administração do município.

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  3. Muito triste. Quem não valoriza o passado não merece o futuro. Muito triste.

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  4. Existe um prédio na esquina da Mundurucus, esquina com a 14 de abril que é no mesmo estilo. Inclusive, pertencia ao mesmo dono desta casa que foi demolida. Ou seja, este não era o último exemplar!

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  5. Oi. Sou acadêmica de história e estou fazendo uma pesquisa sobre o casarão José porfirio em icoaraci, porém não estou conseguindo fontes sobre a origem do casarao, os donos atuais, sobre o descaso patrimonial e a preservação da memória. Visto que este patrimônio tem menor visibilidade que os demais conhecidos em icoaraci a exemplo o chalé Tavares Cardoso e a casa do poeta ... seria possível entrar em contato com vocês do Blogger para conversar meu número é 98817-5151 meu zap tbm.. estou no aguardo....

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  6. Tentei lembrar de algum edifício brutalista de Belém e não consegui. Vim pesquisar e acabei aqui. Uma pena ver a história apagada. Gostei de ter me recordado do tribunal.

    No momento, decidi incluir um edifício de estética brutalista na proposta do projeto do Parque da Cidade que estou preparando pra Belém. Tenho receio de que o público paraense não se identifique com o Brutalismo, já que carece de referências. Mas será uma oportunidade pra Belém entrar na lista das cidades com Grandes Obras Brutalistas, como Rio de Janeiro e São Paulo.

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